segunda-feira, 22 de julho de 2013

DESCARTÁVEIS








Assisti, hoje, a um vídeo emocionante de um casal de pequenas crianças orientais, vestidas com capas de chuva. No tal vídeo, eles teriam  que transpor uma valeta. O menino passou primeiro e esticou a mãozinha para ajudar a menininha (amedrontada) a passar. Ela segurou sua mão, olhando para o buraco, meio indecisa, então, balançou a cabeça, negativamente...Ele insistiu, mas percebendo a inercia da menina, fez um sinal para que ela desse uns passos para trás, esticou uma perna, depois a outra, fazendo uma “ponte suspensa” sobre o buraco, deitando em decúbito ventral. A menina olha aquela cena de gentileza e amor e  decide passar sobre o corpo do menino, utilizando-o como uma “ponte” (criada por seu companheiro naquela “aventura”).

Fiquei pensando em quanto amor, comprometimento e preocupação estavam implícitos naquele  ato de abnegação por parte de uma criança tão pequena. Pensei também em como a pureza e o amor fraternal se corrompem ao longo dos anos. Será que, daqui há 20, 30 anos aquele pequeno, amoroso e cordato menino ainda terá resquícios desses atributos? Ou eles (e ele) se perderão sob as maldades, egoísmos e loucuras da atualidade?

Em dias de facilidades, desobrigações e busca de vantagens pessoais, nos acostumamos às “modernidades” de não precisarmos adquirir coisas definitivas, pois os descartáveis suprem a maioria das necessidades e não nos “escravizam” aos cuidados inerentes à manutenção do bem ou relacionamentos.

Tanto é assim que quando organizamos uma festa, buscamos o maior número possível de “descartáveis” (chamados de serviços terceirizados) dos quais usufruiremos, mas sem nenhum compromisso com a manutenção deles, exceto durante àquelas horas pelas quais estaremos pagando. 

Ficamos acostumamos aos contatos frios, distantes (em paginas de relacionamento), nos quais o  único compromisso é com a “própria verdade” ou a “própria comodidade”... 

O mais absurdo de tudo isto,  é que agimos assim  até mesmo com as pessoas que conhecemos há anos, com as quais mantínhamos contatos mais estreitos e constantes. No entanto, o “comodismo” de termos aniversários, datas importantes e novidades postados “nas nuvens”, mantendo-nos atualizados, nos leva à manutenção de contatos impessoais, até mesmo com os que faziam parte de nosso antigo convívio social.

O mesmo procedimento pode ser observado quanto aos relacionamentos: se hoje sabemos de “um amor eterno”, amanhã a tal “eternidade” já mudou de rumo, status, pessoa (???). As pessoas descartam as outras como descartam-se absorventes, fraldas sujas, aparelhos de barbear ou copos descartáveis usados.

Ainda me espanto com a facilidade de proferir a frase “eu te amo”, para gato, cachorro e companhia limitada, sem discernimento e muito menos sinceridade. É mesmo uma pena que coisas tão sublimes tenham sido relegadas ao nível de irrelevante importância!

Entendo que a modernidade nos trouxe muitos benefícios em termos de tecnologia e facilidade de vida, mas tem subtraído o que existe de mais importante: a nossa HUMANIDADE.

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